Monday, February 27, 2017

Review: Os invernos da ilha

Os invernos da ilha Os invernos da ilha by Rodrigo Duarte Garcia
My rating: 4 of 5 stars

Romance de aventuras ligeiramente absurdo e apelativo, mas muito interessante, principalmente no final: a primeira parte, que toma talvez mais da metade do livro (não me levantarei, nem irei até o quarto procurá-lo para conferir…), é bem desigual, tomada em parte pelo diário de um corsário neerlandês do século XIV rendida de maneira bem estranha, como se fosse um diário de um jovem semiletrado brasileiro, cheio de lugares-comuns e anacronismos. Aliás, além de erros óbvios como zeros burocráticos à esquerda (‘09 de novembro’, faça-me o favor!), há lugares-comuns absolutamente desnecessários tanto de enredo — como o herói seduzido por uma antiheroína, ou os milagres de hagiografia, ou a ameaça de morte vinda do nada no meio do caminho, ou a catástrofe inverossivelmente coincidindo com o triunfo como num cinemão roliúdiano — como de linguagem — ‘coisa e tal’, ‘impactar’ no sentido de ‘afetar’.

No final, a história acaba superando todos esses defeitos e tendo um desfecho interessante, embora insatisfatório — afinal, o herói fica ou não com a heroína, ou a antiheroína? — e blasé, já que não precisa da fortuna que lhe cai à mão; o herói também é insatisfatório, um convertido meia-boca sem nenhuma capacidade de resistir às tentações mais óbvias mesmo quando as alternativas mais corretas, e interessantes, estão tão perto à sua mão; talvez isso se explique pelo cristopaganismo ao qual se converteu, feito de pouco mais que milagres hagiográficos e penitências sem sentido, praticamente sem noção mais profunda de pecado, graça e salvação.

Merecia uma segunda edição, com um trabalho de reescrita editorial muito mais rigoroso.

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